COMO APANHAR IDEIAS
Está, então, na hora de apanhares tu ideias. Repara em volta. Que ideias vês? Observa bem o movimento das folhas, nota bem o fundo do vento, vê bem o rasto do voo daquele pássaro, repara na porta entreaberta, olha o risco de giz mal apagado no quadro. Que te diz a ideia? Conversa com ela. Apanha tudo o que ela te diz com a palavra na ponta do teu lápis!
Podes apanhar ideias com as mãos: tocando na árvore, pegando numa flor, segurando um bicharoco, sentindo a textura do lápis. Vê bem o que acontece quando apanhas uma ideia com a mão. É possível que venham logo mais ideias atrás.
Também podes apanhar ideias sem as mãos. Esta é uma operação especial. Dessa forma, podes apanhar ideias no topo da árvore mais alta ou na nuvem mais longínqua. Nesse caso, terás de segurar a ideia com a tua cabeça. Estás a ver por que motivo a tua cabeça é material essencial?
Podes fazer uma excursão de ideias, ir por aí, apanhar ideias-passarinho nas coisas. Com mãos, ou sem mãos, já sabes. E sem mãos, decididamente se estiveres a apanhar ideias a partir de coisas que não sejam tuas, claro. Também podes apanhar ideias de olhos fechados, a partir da tua memória, daquilo que te recordes e que já aconteceu. Também podes reparar em coisas que ainda não aconteceram ou até em coisas inexistentes! Nos livros, pelas palavras, neste ato de pura criação, tudo é possível!
Ao longo dos próximos vídeos, eu vou apresentar-te algumas propostas de caça de ideias. Mas se te apetecer escrever uma coisa diferente daquela que te proponho: segue a tua cabeça, que é muito mais importante do que qualquer sugestão minha.
Outra coisa. As ideias gostam muito de companhia e têm muitas amigas. Onde vai uma, vão todas. Por isso, é muito natural que, de repente, te apareçam ideias por todo o lado. Apanha-as depressa! E recorda-te sempre: nos livros tudo é possível, assim como no teu texto, que será como tu, e só tu, quiseres. Não há limites (com atenção, já sabes, a não escrevermos coisas que possam ofender as outras pessoas, que poderiam bem serem nós próprios). Por isso, tira os travões da tua cabeça, abre todas as janelas que tens dentro de ti, deixa entrar todas as ideias, venham na forma de passarinhos, de formigas, ou de elefantes.
No final da caçada, poderás, se quiseres, partilhar o teu ideário (caso estejas a escrever ao pé dos teus colegas ou amigos). Sim, há os diários, e há os ideários, palavra que vem de ideias. Não te preocupes com palavras que não entendas, estejam elas neste vídeo, ou nos livros que possas ler. Ainda hoje, eu encontro palavras que não entendo nos livros que leio. Procura essa palavra estranha no dicionário, pergunta ao professor ou à mãe o que significa e, pronto, problema resolvido, já não se tratará mais de uma palavra desconhecida. São como as ilhas. Só são desconhecidas até as conhecermos.
Sobre a partilha, não precisas de mostrar o teu texto, se não quiseres. É teu: íntimo e privado, confidencial. Só poderá lê-lo quem tu permitas. Isto não é um texto escolar, que o professor poderá avaliar. O professor não vai importar-se com isto, porque sabe que também é preciso que as crianças tenham espaços de liberdade e criação sem julgamento. Se escolheres partilhar, essa partilha é um ato de grande generosidade, que será recebida, com gratidão e amizade pelos teus colegas, e sem censura.
Aqui, neste espaço de criação literária, não criticamos, ajudamos, e até emprestamos as mãos, caso necessário. Sim, porque, no caso de não te lembrares como se escreve alguma palavra de que precisas, poderás pedir a um colega que empreste as suas mãos e escreva, na tua folha, a palavra que te faz falta. Será um gesto de gentileza muito bonito e grandioso.
No final da tua caçada, revê as tuas ideias para ver se não te faltam palavras que as apanhem bem, de maneira a que se façam entender. Relê o teu texto e vê se queres acrescentar ou mudar alguma coisa.
Lembra-te que importa também que não perturbes as ideias-passarinho dos teus colegas, nem as tuas próprias. Quando fazemos barulho, o que acontece aos passarinhos? Fogem, assustados, e já não os vês mais. Bom, é a mesma coisa com as ideias-passarinho. Cada um com a sua cabeça. O silêncio é um tesouro, uma janela aberta, por isso, um presente. Oferece-o aos teus colegas e pede que to ofereçam também.
Agora, que voem as cabeças! Deixa que te aconteça o texto!
Um beijo da tua treinadora de ideias-passarinho.